O coronavírus era apenas uma pavorosa novidade na Europa e atacava a Itália de forma avassaladora com centenas de pessoas morrendo por dia, quando um infectologista chinês chegou ao norte do país para orientar o combate à pandemia.
Logo que começou a percorrer as ruas, perguntou: “Mas ninguém usa máscara aqui?”. E recomendou a adoção imediata do acessório.
Enquanto em muitos países asiáticos – como China, Japão e Coreia do Sul – o uso de máscaras é praticamente uma rotina para as pessoas, mesmo em situações normais, no começo da história da pandemia no Ocidente não há esse costume e ainda não havia essa orientação.
A recomendação geral, de governos e da própria Organização Mundial de Saúde (OMS) era o uso de máscara só por quem tivesse algum sintoma, como tosse, coriza etc.
Só no início de abril a OMS se rendeu ao que diziam e faziam os orientais: seria preciso que todos usassem nem que fosse uma máscara caseira como barreira facial para o vírus.
Pois agora, um trabalho de pesquisa envolvendo universidades do Texas e da Califórnia (EUA) praticamente diz que a máscara não é só seguramente uma das formas de prevenir o contágio, mas pode ser também a maneira mais eficaz de impedir a propagação de pessoa para pessoa.
É que, a partir de uma comparação de taxas de infecção por covid-19 na Itália e em Nova York antes e depois da adoção do uso de máscaras – avaliando também o caso de Wuhan, na China, onde as máscaras sempre foram obrigatórias –, os pesquisadores constataram que o novo coronavírus se espalha principalmente por transmissão aérea.
Eles perceberam que, tanto na cidade estadunidense como entre os italianos, essas taxas somente começaram a diminuir somente após a adoção da obrigatoriedade de máscaras caseiras.
Mais do que isso: os estudiosos calcularam que essa mudança de procedimento evitou mais de 78 mil contaminações na Itália entre 6 de abril e 9 de maio e mais de 66 mil em Nova York entre 17 de abril e 9 de maio – as datas de início da avaliação coincidem com a implantação da obrigatoriedade do uso de máscara.
No artigo que publicaram na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, eles concluem:
“O uso de máscaras faciais em público corresponde aos meios mais eficazes para evitar a transmissão inter-humana, e essa prática barata, em conjunto com distanciamento social simultâneo, quarentena e rastreamento de contatos, representa a oportunidade de combate mais provável para interromper a pandemia antes do desenvolvimento de uma vacina.”
Vírus podem se espalhar: 1) por contato direto quando uma pessoa tosse ou espirra em outra pessoa; 2) contato indireto, quando uma pessoa tosse ou espirra em um objeto que é tocado por outra pessoa; ou 3) pelo ar, através de grandes gotículas que caem rapidamente no chão e pequenas gotículas, chamadas aerossóis, que podem percorrer vários metros e ficar no ar por um tempo.
Impopular, mas necessária
No estudo, os pesquisadores dizem que “a cobertura do rosto impede a transmissão aérea bloqueando a atomização e a inalação de aerossóis portadores de vírus e a transmissão por contato bloqueando o derramamento viral de gotículas”.
Já o distanciamento social, a quarentena e o isolamento, em conjunto com a higienização das mãos, minimizam a transmissão por contato (direta e indireta), mas não protegem contra a transmissão aérea, relataram.
O estudo observou que, ao contrário da China, o uso de máscaras faciais era impopular na maior parte do mundo ocidental durante o início do surto da pandemia.
Mas os pesquisadores disseram que as evidências mostram que as máscaras funcionam para diminuir a propagação.