MANIFESTO ARTÍSTICO-FLORESTAL BORBOLETA AZUL ( NÃO SOMOS NEM MODERNISTAS, NEM TROPICALISTAS)

MANIFESTO ARTÍSTICO-FLORESTAL BORBOLETA AZUL ( NÃO SOMOS NEM MODERNISTAS, NEM TROPICALISTAS)

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O que as  Borboletas Azuis têm a dizer para nós, neste momento que a produtora Borboleta Azul organiza a criação deste Grupo Florestal de Teatro Indígena Pluriétnico? Somos capazes de entendê-las?
Na semana que redigimos os estatutos e a ata desta reunião de fundação, o universo conversou conosco através de Borboletas Azuis.
Uma Borboleta Azul recepcionou o Eric na sua primeira visita a sua nova casa.
Outra ou a mesma  Borboleta Azul sobrevoou e   pousou no ombro do  Ribamar, às margens de um dos últimos igarapés do Rio de Janeiro,  na Rua Mágica Saboia Lima,  onde nasceu o movimento ambientalista nos anos 70.
Elas apareceram na Mata Atlântica para nos dar suas autorizações energéticas encantadas para criarmos o grupo. As Morfos trouxeram a mensagem simbólica do universo.
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Somos seres das circunstâncias da nossa época.
Vivemos na cyber-era. Cibernética global.
Tudo interconectado e interligado. Sinergia instantânea. Sabemos disso. Estamos ligados. Estamos conectados.
Mas não aceitamos o padrão cultural globalizado invasor, que tenta anular  o multiculturalismo planetário na Aby Ayala, na África e na Ásia .
Não queremos a monotonia tediosa da cultura única do todos iguais. Igual a quem ? Igual ao que? Igual por que? Igual prá que? Igualdade social, sim. Mas diversidade cultural sempre.
Não aceitamos nenhuma fórmula pré-fabricada de expressão cultural que embote ou anule a nossa expressão contemporânea  particular no mundo. Somos livres. Onde dói?
O Grupo Florestal aceita e quer  dialogar fraternalmente com todas as culturas do planeta. Queremos aprender com todas. Mas também queremos ensinar. É justo. Enriquecermos as culturas uns dos outros. Crescermos juntos , sem deixar de ser o que somos.
E somos nossa ancestralidade no presente. Somos felizes em ser quem somos. Por isto somos igualmente acolhedores. Sentimo-nos felizes e gratos ao aprender vossas culturas. Todas.
Mas tambem somos a reação mais sofisticada do contemporâneo cultural planetário contra os padrões culturais invasores. Sempre fomos. Queremos trocar, se possível. Submeter-se, jamais.
Nossa política cultural não é apenas pós-colonial ou anticolonial.  Ela é decolonial, descolonizadora e desglobalizante. Antes do mundo em nós,  nós no mundo. Um  diálogo cultural justo com a multiculturalidade planetária. Diálogo com as culturas, com  a sociedade civil, com o mercado, com o Estado. Mas sem interferência sobre a nossa liberdade de criação artistica.Somos da paz. Mas sem complexo de inferioridade.
Nossa base são as  nossas  culturas ancestrais na  floresta e na cidade. A floresta em nós na cidade deles e agora nossa cidade também. Cidadania planetária, urbana e florestal. Eis a nossa beleza. Toquem o barco.
Somos o contraponto cultural  da originalidade nativa sul-americana para desconstruir  a cultura da globalização neocolonialista que aniquila o multiculturalismo global.
Mas não somos,todavia, a antropofagia modernista brasileira.Que isto fique claro. No século XX,  Oswald de Andrade criou a equação identitaria “Tupi or not tupi.That’s de  question”. Ele quis dizer: ser ou não ser Indígena. Eis a questão. Mas logo em seguida ele disse também que “só me interessa o que não é meu”. Somente a cultura do outro lhe interessava. Para canibalizá-la. Seguindo este rastro,o movimento tropicalista  colocou guitarra no baião. A cultura do outro em nós.  Incorporou Oswald.
Os brasileiros são miscigenados , mas isto não justifica importar padrões culturais e adaptá-los a realidade brasileira. Nacionalizá-los. Nacionalização de importação. Isto não protege as culturas originárias e tradicionais.
Replicamos, em sentido contrário: “somente nos interessa o que é nosso, em primeiro lugar” . We are, quer dizer, nós somos Tupi, Aruak, Karib, Macro-Jê, Yepá-Mashã e tanto mais. Muito prazer, Brasil. Muito prazer, planeta. Somos nossa ancestralidade  no presente. Todavia, aceitamos dialogar. Dialogar é trocar. Sem  adaptar-se a cultura do outro. Nem querer que a outridade cultural se adapte a nós.  Estamos falando greco? Estamos fora de todo colonialismo cultural!
Estamos nascendo para reagir re-existindo contra  a dominação  cultural da globalização unilateral.  Não aceitamos as novas catequeseso culturais  travestidas de marketing hipnótico, para o consumo de bens artísticos apenas como produtos e não como arte. Somos arte e não artefatos. Somos estilo e não arranjo.
Podemos criar  bens culturais para consumo estético-comercial, sim. Claro que sim. Muitos de nos sobrevivem comercializando sua arte, seu artesanato. Mas nossas criações não são uma simples mercadoria. Como a manteiga.  Ou como o ar condicionado. Criamos beleza para o fruir feliz das pessoas. Somos mais.
Somente nos interessa o que é culturalmente  nosso, repetimos. Mas aceitamos trocar e curtir outras  culturas. Vivemos no mesmo planeta, ameaçado pela intolerância e pela ganância globalizada. Precisamos de um fraterno diálogo cultural global para  restituir a paz e a sanidade planetária.  Queremos atualizar o que é nosso. Revitalizar nossa ancestralidade no aqui e agora. Mas aceitamos dialogar e aprender, caso encontremos outros seres culturais com o mesmo gesto gentil.
Esta é a nossa onda.
Fiquem tranquilos .
Não mordemos.
E já somos  vacinados.
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Somos uma nova perspectiva teatral.
Já substituímos as perspectivas do teatro  catequista e  do teatro  indigenista pela perspectiva do teatro indígena mito-ritualístico da Amazônia.
O teatro catequista do século XVI  foi criado para profanar o sagrado e as lideranças da Confederação dos Tamoios. Padre Anchieta usou a forma teatral greco-latina colonizadora  para expressar um conteúdo com uma visão de mundo eurocêntrica, colonizadora e catequista.
O teatro indigenista foi criado no século XX, e manteve a forma teatral colonizadora greco-latina para tentar  expressar um conteúdo anticolonial. Mas a forma não encaixou no conteúdo. A forma e a linguagem cênica permaneceram colonizadas, importadas de outra cultura
Em 1996, com a premiada  peça teatral Poronominare, criamos  o teatro mito-ritualístico do indígena na cidade e no presente, com uma forma estética  mito-ritualística,  decolonial e descolonizadora, que incorporou as expressões cênicas e coreográficas dos rituais indígenas em sua linguagem expressiva. Uma forma teatral  descolonizada para expressar um conteúdo anticolonial e desglobalizante. Chegamos no ponto.
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O Grupo Florestal de Teatro Indígena Multi-étnico está nascendo nesta noite cercado da magia do diálogo energético  com o universo através das borboletas azuis.
Recebemos a autorização das energias encantadas da floresta e do cosmo através dos sinais e do carinho destas Morfos míticas e transcendentais. Os ocidentais não sabem o que é isto. Não possuem sensibilidade e transcendência para dialogar com as energias do universo.
Nós possuímos esta sensibilidade e estamos fundando o Grupo.
Vida longa para o Grupo Florestal de Teatro Indígena e Multi- Étnico.
Vida longa para nós.
Nossa gratidão as Borboletas Azuis

LuizArmando

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