Fernanda Montenegro emociona o Brasil com carta para Fernanda Torres após vitória no Oscar 2025

Fernanda Montenegro emociona o Brasil com carta para Fernanda Torres após vitória no Oscar 2025

O Brasil celebrou, durante o Carnaval, um feito histórico para o cinema nacional“Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, solidificando a grandiosidade da produção. No centro desse reconhecimento está Fernanda Torres, protagonista do longa, que entregou uma atuação arrebatadora no papel de Eunice Paiva e também foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz.

Nesta sexta-feira (7), durante o “Globo Repórter”, Torres foi homenageada pela própria mãe, Fernanda Montenegroa maior dama do teatro e do audiovisual nacional. A veterana, que também interpretou Eunice na produção histórica, divulgou uma carta emocionante para a “pupila”.

Se há algo maior do que um prêmio, é o reconhecimento vindo de quem entende, na alma, o peso da trajetória artística – e ninguém melhor do que Montenegro, um ícone vivo da dramaturgia brasileira, para traduzir essa consagração em palavras.

‘Fernandona’ exalta a filha em poderoso texto divulgado pela TV Globo

Na carta, Montenegro não apenas exalta o talento da filha, mas faz uma declaração de amor à própria arte de atuar. Ela inicia com uma frase que já carrega, por si só, um peso imenso: “Fernanda Torres é um imenso talento como ser humano – daí a dimensão dessa vocação, ampla e inarredável, de ser uma atriz extraordinária”.

A atriz também compartilha um dos momentos mais marcantes de sua vida: quando, ao lado do marido, Fernando Torres, assistiu à filha no palco do Teatro Tablado pela primeira vez. “Nós, os pais atores, os abraçamos aos prantos diante do fenômeno”, relembra, em um trecho que exala emoção e revela que Fernanda Torres não se tornou atriz por acaso – a arte já estava nela desde a infância.

O episódio remete a outro momento icônico do teatro brasileiro, protagonizado por Procópio Ferreira e sua filha, Bibi Ferreira. Montenegro cita a emblemática noite em que Procópio, tomado pela emoção ao ver Bibi brilhar no palco com “Mirandolina”, anunciou ao público: “Senhoras e senhores, está lançada a minha filial”.  Ao estabelecer esse paralelo, Montenegro eleva Fernanda a um patamar que ultrapassa o sucesso momentâneo, a colocando na linhagem dos grandes nomes da dramaturgia brasileira.

Mas a carta da diva do teatro não é apenas um testemunho pessoal. Ela entende o impacto histórico do que está acontecendo. Quando menciona que sua filha “atravessou a linha do Equador justamente durante o nosso Carnaval Dionisíaco”, a atriz relaciona essa vitória ao espírito brasileiro, ao nosso sincretismo entre festa e luta, entre euforia e resistência. O cinema brasileiro, tantas vezes deixado à margem, rompeu barreiras e se fez ouvir no mundo inteiro – e foi Fernanda Torres quem carregou essa bandeira.

A despedida do texto é a consagração final: Montenegro afirma que “Ainda Estou Aqui” não apenas revelou um capítulo poderoso da história do Brasil, mas fez de sua filha “um referencial transcendente de brasilidade”. Uma atriz que, ao se entregar completamente ao papel de Eunice Paiva, se tornou símbolo da força, da resiliência e da luta por justiça.

Podemos dizer que as palavras de Montenegro vão além de um orgulho de mãe. É um documento histórico, um testemunho de alguém que, com quase 100 anos de vida e décadas de experiência, reconhece e legitima a grandiosidade de outra artista. Se Fernanda Torres já havia conquistado a crítica e o público com sua atuação magistral, agora tem seu nome eternizado por uma voz que transcende gerações. Icônicas!

Leia a carta completa de Fernanda Montenegro para Fernanda Torres:

Fernanda Torres é um imenso talento como ser humano – daí a dimensão dessa vocação, ampla e inarredável, de ser uma atriz extraordinária. A arte de ser ator (no caso atriz) só nós, desse ofício, entendemos na pele, repito, na pele, o que é o ser humano. Ela, Nanda, sabe. Desde os seus doze anos, quando Fernando e eu a assistimos no palco do Teatro Tablado, com total domínio de cena, nós, os pais atores, os abraçamos aos prantos diante do fenômeno.

Veio à minha memória a frase do grande ator brasileiro Procópio Ferreira, que no final da interpretação da jovem e eterna atriz Bibi Ferreira, sua filha, Procópio agradecendo o estrondoso aplauso ao final do clássico ‘Mirandolina’ – de Goldoni – e na emoção do que estava acontecendo, lançou em voz alta: ‘Senhoras e senhores, está lançada a minha filial’. Fernanda Torres, desde a infância, sempre ordenou a sua vocação de uma forma independente, real e sublime.

São quase cinquenta anos de criatividade em diversas áreas da nossa cultura artística. Coube à Fernanda Torres, o fenômeno de atravessar a linha do Equador, justamente durante o nosso Carnaval Dionisíaco. Esse milagre se deve ao extraordinário filme de Walter Salles, ‘Ainda Estou Aqui’, que, pelo seu protagonismo nessa obra de arte cinematográfica, fez dela, para sempre, um referencial transcendente de brasilidade.

LuizArmando

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